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Relatório Individual

 

Jéssica Coelho

 

No contexto da disciplina de Iniciação à Prática Profissional II, foi-nos proposto a realização de um estágio na valência pré-escolar.

Este, realizou-se na escola Maria Eugénia Canavial, e contou com 10 horas mínimas, porém o total excedeu esse valor, uma vez que aproveitava todos os momentos disponíveis para permanecer na instituição a fim de aprofundar o meu conhecimento com mais observação participante.

No geral, a instituição possui boas condições: salas com várias áreas definidas (zona de dormir, zona de brincar- tapete, zona de faz de conta- cozinha, zona de trabalhar e pintar...), pátios amplos e com estruturas para as crianças poderem brincar, refeitórios e casas de banhos adequadas a crianças, etc.

No entanto, na minha opinião, existem poucos espaços verdes (quase inexistentes), importantes para as crianças observarem, conhecerem, brincarem, etc.

No que diz respeito aos recursos humanos, tanto a Irmã responsável pela escola (Irmã Salvina), como a Educadora cooperante no nosso estágio (Educadora Cátia) e ainda a auxiliar (Isabel), são profissionais excelentes, que nos receberam muito bem e ajudaram em todos os aspectos, quer a conhecer a instituição (Irmã Salvina) e os seus hábitos quer a conhecer as suas crianças (Educadora Cátia).

Num primeiro momento (após conhecermos a escola), conhecemos a sala onde nos iriamos inserir, e observamos o comportamento das crianças face à nossa chegada. A educadora, que se encontrava atarefada, tentou perceber qual o nosso objectivo relativamente ao estágio e posteriormente mostrou-nos o espaço. Porém, tanto eu como a minha colega achamos que aquela apresentação à sala não foi de todo a mais correcta, pois limitou-se a apresentar as várias zonas sem explicar muito mais (por exemplo, na parede da sala estavam pendurados quadros com informações que nunca nos foi explicado). Também a nível do método utilizado, não nos foi dito nem explicado qual o método aplicado naquela sala específica ou naquela escola.

A sala em que estagiei era denominada por sala dos gatinhos. A maioria das crianças tinha 5 anos, à excepção de uma que tinha 6 anos. Ao longo do nosso estágio fomos conhecendo aos poucos as suas características, gostos, personalidades, etc. No geral a turma entendia-se bem, sem a existência de muitos conflitos. Era também muito equilibrada a nível de conhecimento e de desenvolvimento. Contudo, crianças diferentes e com personalidades diferentes aprendem de forma distinta também. Dito isto, através da minha observação participante deparei-me com alguns casos, que apesar de não serem para já tão preocupantes, se não forem tratados, poderão agravar no futuro. Os casos a seguir apresentados, curiosamente são todos crianças do género masculino.

Quando observamos crianças com esta idade, sabemos que a distração é o problema pelo qual  muitas vezes se encontram irrequietos, porém na sala dos Gatinhos dois dos rapazes eram constantemente chamados à atenção por vários motivos, ou por falarem ao mesmo tempo do que a educadora enquanto esta tentava desenvolver uma actividade, ou por desencadearem pequenas confusões ou distúrbios. Essas duas crianças, apesar de apresentarem um comportamento semelhante, a nível de conhecimento não eram tão homogéneo, sendo que uma delas apresentava dificuldades em alguns momentos de aprendizagem (como por exemplo, a dividir sílabas com palmas e contando quantas palmas a dividia).

O próximo caso que me despertou a atenção, trata-se da criança com 6 anos. Confesso que já me tinha questionado o porquê da criança com 6 anos ainda não estar na primeira classe, contudo não questionei a educadora e parti para uma observação mais pormenorizada. Ao longo do estágio não me apercebi de nada diferente em relação às outras crianças, era um menino atento quando tinha de ser, e muito energético na hora do recreio. Debateu várias vezes assuntos actuais relacionados com temas que este gostava e dominada (entre eles futebol). Na hora de desenhar, não se mostrava muito interessado e limitava-se a fazer uns riscos em jeito de desenho. Pela manhã, era a última criança a chegar, sendo que os seus colegas já se encontravam sentados a fazer fichas de um livro, e este tinha de as fazer também. Porém, como chegava tarde, realizava poucos ou nenhuns exercícios e parava por ser hora de comer a fruta.

Num dos últimos dias de estágio, a educadora tinha proposto o recorte e decoração de um ovo da páscoa em papel (com o nome de cada criança de um lado e, do outro a decoração, onde devia estar escrito Feliz Páscoa- que eles copiavam de um papel), e eu após ter auxiliado outras crianças no recorte e na decoração fui ajudar essa criança que me pareceu muito desmotivada. Quando pedi que me mostrasse o seu trabalho verifiquei que estava errado, as letras mal feitas e quase ilegíveis, dirigi-me à educadora para esta me dar outro cartão, uma vez que aquele já não servia. A educadora reconheceu de imediato que aquele cartão tinha sido feito pelo tal menino. O que eu pensava que era distração ou desmotivação no trabalho, demonstrava-se numa falta de conhecimento. Assim, a educadora e eu ajudamos a criança a compreender cada letra de maneira a que esta conseguisse fazer o pretendido. Após este momento estive mais atenta às dificuldades da criança em questão incentivando-a a tentar aprender a escrever o seu nome e a realizar outras actividades (que as outras crianças realizavam sem dificuldade). Com a minha observação, apercebi-me que as dificuldades nada tinham a ver com desfavorecimento social, bem pelo contrário, era uma criança de uma família que aparentava bastantes posses e talvez por essa razão o deixassem fazer o que ele mais gosta (jogar futebol e outros jogos mais físicos) ao invés de incentivar a aprendizagem com livros apropriados ou jogos mais virados para uma aprendizagem adequada, uma vez que já possuía 6 anos- idade esperada para a entrada no primeiro ano.

Nesta idade (5/6 anos), é esperado pela sociedade, em geral, que a criança aprenda a escrever e mais tarde a ler. Porém temos de ter noção que aos 5 anos as crianças ainda se encontram na pré e que com esta idade é necessário ter noção de algumas letras etc, mas não se deve tornar a pré no primeiro ano (apropriado para crianças com 6 anos). Quero com isto dizer, que é importante que se desenvolvam, mas tendo sempre mais espaço para a descoberta e para a brincadeira, deixando o aprender a ler e escrever para o primeiro ano.

Apesar de defender este método, na sala dos Gatinhos onde estagiei, tal como nas outras salas de pré onde as minhas colegas de turma estagiaram, utilizavam-se muitas fichas de exercícios onde tinham de pintar, fazer grafismos, por a data, por o seu nome, escrever uma ou outra coisa. Apesar de ser bom as crianças desenvolverem essa parte, acabam por passar muito tempo sentadas a realizar actividades que requerem alguma atenção. Assim, as crianças acabavam por ficar saturadas, questionando-se muitas vezes por uma pausa para irem ao pátio brincar. Em situações esporádicas, as crianças pediam para ir à casa de banho, na tentativa de passar algum tempo fora da sala.

Entretanto, o estágio acabou mas o carinho pelas crianças permaneceu. Confesso que foi um pouco emocionante anunciar que já não iria lá voltar, ao que as crianças responderam com palavras carinhosas, com abraços e beijinhos.

“Resta dizer que nestas idades, a vida escolar representa uma grande parte da existência da criança.” (Drévillon, 1988)

 Levo comigo mais uma experiência de observação e participação, onde aprendi mais um pouco sobre esta idade tão bonita que é os 5/6 anos.

 

Daniela Rodrigues

 

 

A prática pedagógica, neste semestre, contextualizou-se na valência pré-escola, tornando-se em mais um aspecto importante para a nossa formação. Ao contrário da valência creche, o pré-escolar aborda crianças dos cinco aos seis anos. Este é importante para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, pois é a preparação para o 1º ciclo.

A sala dos gatinhos, está organizada por diversas áreas, sendo estas bem distribuídas. A educadora mostrou-nos a sala, identificando as áreas nela existente.

Na entrada da sala estava afixado alguns documentos que achei que a educadora devia ter-nos explicado e mostrado, visto que deviam conter informações importantes acerca das crianças, do trabalho realizado na sala, das actividades, da rotina, etc.

O primeiro impacto com as crianças foi positivo, mas pouco participativo, pois estas ainda não tinham estabelecido contacto connosco e vice-versa. 

Um dos aspectos negativos que observei foi o facto de as crianças realizarem todos os dias fichas. Este erro comum, em muitas salas do pré-escolar, compacta o tempo de brincadeira das crianças, sendo que, estas fichas devem ser realizadas no 1º ano escolar.

Com as fichas, as crianças aborreciam-se facilmente e não interessavam-se em fazer os exercícios correctamente. Por exemplo, alguns meninos (as) terminavam as fichas primeiro e, por vezes, faziam as dos outros meninos (as) para irem mais cedo para o intervalo.

Contudo, as crianças podiam expressar-se através da expressão plástica (colagens, desenhos), brincar com jogos lúdicos, que estimulavam a sua criatividade (construção de torres, flores, aviões, carros, pontes), também tinham puzzles e jogos de mesa.

Neste tempo de brincadeira dentro da sala, observei que as crianças gostavam de destruir o que os seus colegas construíam e, por vezes atiravam peças uns aos outros.

Num jogo, em que os objectos geométricos eram de madeira, as crianças construíram uma torre, mas devido ao lançamento desses objectos, a educadora avisou-os que lhes tiraria o jogo, assim que visse mais algum objecto a ser atirado. Como tal, voltou a acontecer e ai, a educadora cumpriu com o que prometera, tirando-lhes o jogo. Esta atitude faz com que as crianças, para a próxima, lembrem-se que se atirarem novamente os objectos ficam sem o jogo.

            Ainda dentro da sala, na hora da refeição, da canção de bom dia e na realização das fichas, a educadora e auxiliar tentavam separar os meninos (as) que estavam sempre à conversa ou na brincadeira.

Esta forma de separar as crianças é inadequado e não deve ser realizada, pois as crianças devem conversar entre si. É uma forma de interagirem com os colegas e de se conhecerem melhor. Por exemplo, um menino estava a contar ao colega o que tinha presenciado num jogo de futebol que tinha visto na televisão. O mais interessante é que não se limitou a contar, mas também demonstrou em simultâneo os movimentos que os jogadores realizaram e, isto faz com que as crianças desenvolvam as suas capacidades e aprendam umas com as outras.

Em relação à relação da educadora com as crianças, notei uma distância estabelecida pela mesma. As crianças por vezes queriam abraçar a educadora, e, esta afastava-as, de modo a que as mesmas vinham ter connosco e nos abraçavam. Já a relação da auxiliar com as crianças era diferente, pelo menos nesse sentido, pois esta deixava as crianças abraçá-la e brincava com as mesmas.

No tapete, num dia de prática, a educadora ia ler uma história que alguns meninos já a tinham ouvido anteriormente. Eles começaram a conta-la em voz alta e a educadora não gostou, mandando-os calar para que os outros meninos pudessem ouvir a história.

Visto que algumas crianças já tinham ouvido a história, a educadora devia ter contabilizado essas crianças, pedindo ajuda em algumas situações, como por exemplo, pedir para contar o que se seguia. No entanto, tirando essa situação, as crianças puderam participar, respondendo a algumas questões no decorrer da história.

Fora da sala, no intervalo, as crianças recorriam à sua criatividade e imaginação para brincarem. Ensinaram-nos alguns jogos que costumavam brincar. Estes jogos tinham sempre por base a música e o corpo. Inseriam-nos sempre nos jogos e pediam para brincarmos com eles.

            No decorrer da prática não me deparei com nenhuma situação de isolamento, mas com duas crianças com comportamentos agressivos. Uma delas não era muito violenta, mas a outra batia nos colegas com os pés, as mãos ou até empurrões. Esta última criança foi muitas vezes chamada à atenção pela educadora, tendo de pedir desculpa aos colegas.

Sempre que algum menino (a) magoa-se ou fizesse qualquer coisa a um colega, a educadora chamava os dois, ouvia a versão de cada um e depois pedia para pedirem desculpa, seguido de um a braço. Era uma óptima forma de resolver a situação, sendo que a educadora não ouvia apenas uma criança, de forma a ser mais justa.

            Uma situação que chamou à atenção e é preocupante, foi o facto de um menino de seis anos ficar mais um ano no pré-escolar por causa de não saber escrever, não saber as letras, ser distraído e não resolver as fichas.

Esta situação é caricata, pois o miúdo deve aprender a escrever é no 1º ano e não no pré-escolar, onde deve ser criança, ou seja, brincar, explorar o mundo, jogar, pintar, desenhar, etc.

Os pais da criança, na minha opinião, também não se interessavam muito, visto que a criança só falava de futebol. Estes deviam incentivar e ajudar o filho a desenhar e a manusear um lápis de cor, pois, nem isso o menino conseguia fazer. Lembro-me num dia, que os meninos estavam a decorar ovos da páscoa de cartão, que a minha colega (que estava a ajudá-los, enquanto eu ficava com os meninos que tinham acabado o ovo no tapete) contou-me, que todas as crianças tinham decorado o ovo e escrito o seu nome no mesmo (pois era essa a intenção da educadora). O menino, quando lhe mostrou o ovo, ela teve de perguntar à educadora o que tinha de fazer, pois o nome não estava escrito, sendo que o menino tinha colocado cada letra do seu nome salteada em todo o ovo. Foi ai, que a educadora informou-lhe que este menino tinha as tais dificuldades já referidas.

Na minha opinião, o menino, mesmo não sabendo manusear o lápis, nem escrever o seu nome, não deveria ter permanecido mais um ano no pré. As letras aprendem-se no 1º ano, a junção das mesmas também, escrever frases também, por isso, não há necessidade de antecede-las.

Cada vez mais, as crianças vão para o 1º ano já sabendo escrever, já sabendo o abecedário, os números; e depois perdem o interesse em aprender. E isto é desmotivante para as crianças.

Apesar da prática pedagógica ter sido pouca, senti que esta pequena intervenção foi fundamental para perceber como funciona uma sala do pré-escolar e também, para ter noção de que há sempre algum caso relevante, pois as crianças não são todas iguais e não pensam da mesma forma.

“Educar é ensinar a criança conduzir-se, a usar judiciosamente sua liberdade, a sentir-se responsável pelos seus actos. É isso a educação.” (Dottrens, 1974) 

Foi uma experiência onde pude aplicar os meus conhecimentos e também aprender com a educadora e as crianças.

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